ARTE | CIDADE | EDUCAÇÃO
Texto elaborado coletivamente pelos participantes dos Encontros com educadores - Arte | Cidade | Educação realizado de março a novembro de 2015 no Instituto Tomie Ohtake - projeto Diálogos Poéticos e Educacionais com a Arte Contemporânea.

Imagem: Esquema do cosmos e da pessoa. Firmínio Marubo, em Montagner 1996. Extraído do livro: Oniska poética do xamanismo na Amazônia - Pedro de Niemeyer Cesarino / Perspectiva - Fapesp, 2011 (pag. 161).
A cidade é uma conexão de ideias, um constante reinventar. Terceira margem.
Nas ruas há muros que falam mais que as multidões.
Há sapatos musicais em pés que não sabem dançar...
Nas ruas os reflexos nos espelhos mudam a alma de lugar.
Há flores misturadas ao lixo e um vazio entre pessoas que não querem se olhar...
“Em toda sua extensão, a cidade parece continuar a multiplicar o seu repertório de imagens: no entanto, não tem espessor, consiste somente, de um lado de fora e de um avesso, como uma folha de papel, como uma figura aqui e outra ali, que não podem se separar, nem se encarar”[1]
A cidade que instiga, inspira, ameaça, amedronta. Um vai e vem sem fim, alucinante metrópole.
Moço, estou perdida na minha cidade ... como faço para voltar para casa?
A arte permanece viva, podendo ser também efêmera... a sensibilidade e o olhar do artista são eternos?
Oiticica oiticirco oiticírculo oiticircuito cisco xisto bauxisto misto mistura fina das formas ao nada do hiper ao real do reino da viela da requenguela do recongo ao rio de ouro do outro do doce bárbaro hélio doux
A arte transforma os lugares da cidade, movimenta os olhares, ressignifica nossa referência interna, nosso cotidiano e potencializa a apropriação da cidade. Usando a arte como ferramenta de intervenção na cidade, e a cidade como suporte para arte, busco algum sentido nesse emaranhado, algo que possa costurar esse mosaico, com a intenção de transformar. Inspirada por Julio Cortázar, convido todos: a ocupar os espaços públicos e tomar a cidade de volta!
“Stop
A vida parou.
Ou foi o automóvel?”[2]
“A cidade é um livro.
A arquitetura começou como qualquer escrito.
Em primeiro lugar, foi o alfabeto.
Colocava-se uma pedra, isso era uma letra”[3]
A interferência artística no espaço público, demonstra o direito de apropriação da cidade pela população recorrente: isso é educação!
“O acontecimento não é o ter-lugar: é o incomensurável do chegar a todo e qualquer ter-lugar, o incomensurável do espaçamento, da reprodução, do chegar a todo espaço disposto no presente de uma apresentação (...) O acontecimento será a apresentação como gesto ou como moção, até como emoção e como exposição fractal: a apresentação como fragmentação”[4]
Embora fizesse frio...
Persistência...
Fio tênue entre morte e vida...
O que se sabe de morte?
O que se sabe de vida?
O que se sabe do que é vida...
QUERÊNCIA.
"Deixando de lado o embrutecimento da vida diária, os embricamentos e modos de compreensão ditados pelo" labirinto da solidão[5], de quem vive em cidade árida, como S. Paulo. E não é que, a cada encontro, fomos assimilando textos, debates e reflexões a respeito de farta documentação sobre a vida na "cidade" e a importância de não deixarmos A CASA SER TOMADA[6], sem a nossa participação, desde o processo de releitura e percepção d'A cidade como um livro"[7], cujos capítulos subsequentes poderão abrir pauta inédita, a depender; das composições, instrumentos e suportes da coletividade hiperativa do nosso grupo. Quem sabe, possamos criar a partitura para a sinfonia de uma Paulicéia. Desde já, registro: minha iniciação musical nesse canto-coral decorreu de uma cartografia afetiva, em que eu pude me reconhecer e atestar a importância da alteridade, a partir das vivências que o grupo crítico e criativo me levou a experimentar. Pudemos desenvolver novos sentidos para uma urbanidade responsável, a ser vivida por cada um de nós, em nós, possivelmente para o bem de todos nós!
Pois há uma regra e uma exceção.
A cidade tem passado passo a passo, passará ao futuro como arte, presente em ação!
“Cultura é a regra. E arte é a exceção”.[8]
Colaboradores: Amanda Grechi, Ana Lucia Rodrigues, Angel De Nardi, Antonia Pagnossim, Berenice Farina, Caio Nascimento, Daniela Faria, Eliza Soares, Geralda Pires, Glória M. Cordovani, João Batista Pires, Licia Rubim, Lúcia Rosa, Maria Angela D’Angelo, Marluci Vaz, Mauricio G. Grecco, Monica Troitiño, Natalia Girasol, Silvia da Matta.
[1] CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia da Letras, 1990.
[2] ANDRADE, Carlos Drummond. Alguma Poesia. Belo Horizonte: Pindorama, 1930.
[3] HUGO, Victor. A cidade é um livro in CHOAY, Françoise. O Urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. São Paulo: Perspectiva, 2013.
[4] NANCY, Jean-Luc. Le sens du monde. Paris:Galilée, 1993, p.193.
[5] PAZ, Octavio. Labirinto da Solidão. S.Paulo Cosac Naify, 2015.
[6] CORTAZAR, Julio . Bestiario. Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 1951.
[7] HUGO, Victor. idem
[8]GODARD, Jean-Luc. In: www.artefazparte.com